Memórias
de meus avós Valdomiro e Jurema Fabi
Nós, adolescentes,
vivemos em um mundo em que conseguimos tudo de “mão beijada”, que não
precisamos nos “esforçar” tanto para conquistar algumas coisas,... Só que nem
sempre foi assim, aliás, não é assim. E eu, neste pequeno momento, irei relatar
a história de vida de meus avós; Jurema e Valdomiro Fabi, que mais do que
ninguém, sabem o que é passar por grandes dificuldades para simplesmente ter um
prato de comida na mesa.
Primeiramente
irei relatar um pouco da trajetória de meu avô. Nascido em Veranópolis e criado
em Santa Catarina, Valdomiro Fabi sempre soube o que é precisar trabalhar desde
pequeno, passando por inúmeras dificuldades.
No momento em que
chegaram a Santa Catarina, toda família deparou-se com inúmeros afazeres e
serviços pesados. Foram então, a procura de materiais de fácil acesso
(madeiras, taipas...), para fazer a construção de sua moradia.
No decorrer de
suas vidas naquele local, passaram por inúmeras necessidades. A alimentação era
extremamente difícil, um litro de leite deveria servir para todos, ou seja,
doze pessoas. Alimentavam-se de erva-mate, caça de animais selvagens, e quando
“davam sorte”, conseguiam comer polenta e pão torrado na brasa.
Assim foram
crescendo, como conseguiam. Porém, infelizmente, doenças se alastraram por toda
parte, onde os mesmos residiam. Sua irmã, a mais nova, de cinco anos na época,
faleceu com uma doença acarretada devido às más condições de alimentação, água
imprópria para consumo e falta de higiene, devido a pouca renda familiar.
Todos muito
tristes tiveram que continuar suas vidas. Com o tempo, a cidadezinha de
Guaraciaba foi crescendo e eles puderam estudar e melhorar um pouco de vida.
Entretanto, outra tragédia cai sobre a família. Sua outra irmã, de dezoito anos
na época, também falece; começando com anemia, acarretando uma doença muito
grave: Leucemia.
Meu avô trabalhou
desde os dez anos de idade. Estudou muito pouco, mais precisamente até a quarta
série. Assim, no serviço pesado, trabalhou até os trinta anos, já estando
casado, com sua atual esposa, minha avó; Jurema Gasparin.
Jurema. Minha
avó, nascida e criada na comunidade do Pedancino, Veranópolis, não teve uma
vida tão difícil, se comparada a de meu avô. Pôde estudar até a sexta série, e
comida, casa e água, nunca lhe faltaram.
Trabalhou,
também, desde os dez anos, no serviço pesado. Quando estudava, passava a levar
as sobra de comida da escola, para quem trabalhava na roça.
Ela, juntamente
com seus pais, possuía meio de transporte da época; o cavalo, conseguindo
assim, ir até “o centro da cidade”. Fazendo curso de costura três vezes por
semana, no Círculo Operário de Veranópolis.
Com vinte e um
anos, conheceu meu avô, Valdomiro Fabi (que havia retornado para Veranópolis
aos 22 anos). Namoraram por um ano via carta e no dia dezenove de fevereiro de
1966, casaram-se na Igreja São Luiz Gonzaga. Viajaram para Santa Catarina,
novamente, dois dias depois do casamento.
Moraram com meus
bisavós durante cinco anos, tendo três filhos: Ângela, Clóvis e Clemar, meu
pai. Trabalharam sempre no serviço pesado, cansaram. Decidiram então, voltar
para Veranópolis, em busca de uma vida melhor, devido ao crescimento da
família. Até adquirirem estabilidade familiar aqui em Veranópolis, moraram com uma
irmã de minha avó. Minha avó veio para cá, grávida e infelizmente pariu seu
filho Claudiomar, morto.
Cerca de dois
anos depois, Valdomiro e Jurema, tiveram mais três filhos: Diane, Crisnando e a
caçula, nove anos depois, minha avó já possuindo quarenta anos de idade; Oana.
Depois do nascimento de minha tia, a “safra secou” e eles criaram os seis
filhos com muito amor e carinho, procurando nunca deixar faltar nada.
Eu fui a primeira
neta dos dois e a mais “cocolada”. Hoje meu avô possui setenta e um anos e
minha avó, setenta. Agora já somos em sete netos e uma bisneta.
Com eles é só
alegria. Falta apenas um ano e meio para meus avós completarem cinquenta anos
de casados. Cinquenta anos de muito amor, cumplicidade e companheirismo.
"Cada ruga representa uma história. E
são tantas... Quantas experiências... Quantas histórias para contar... Quantos
conselhos para dar... Quanta paciência para me aturar. Esqueceram-se de suas vidas para viver em função da minha. Sempre cheios de
atenção, de carinho, de amor. Vocês são o meio termo... O equilíbrio... A
palavra de esperança, o colo que acolhe, o ombro, que apesar de cansado, apoia.
Vocês são tudo de bom e de belo. Meus avós queridos, tenho o maior orgulho de
ser sua neta! Neta dessas duas grandes pessoas!"
- Charline Zaccaria Fabi.
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